Recentemente estive pesquisando sobre o
Fediverso e resolvi criar esta conta no Hubzilla para conhecê-lo mais de perto. Acredito que somente a experiência com a plataforma poderá oferecer uma visão mais prática do que esse novo conceito representa.
Embora tenha achado o conceito fantástico, em sua essência, especialmente por ser compatível com a própria ideia de Web (aberta e descentralizada), estou ainda lutando com o seguinte questionamento:
"O que o Fediverso traz de realmente inovador para a Internet?"
- Publicação de conteúdo? Já podíamos fazer isso com as páginas Web. Homepages, fóruns e wikis já tinham esse papel...
- Notificações de conteúdo novo? Já temos métodos de assinatura de conteúdo como RSS e Atom.
- Troca de mensagens? E-mails já fazem isso.
- Mensageria instantânea? Já temos o protocolo XMPP/Jabber para isso.
- Salas de bate-papo? O protocolo IRC atende bem essa necessidade.
- Organização de contatos? Para isso nem mesmo de um servidor precisamos, podemos ter uma agenda local, muitas vezes já embutida em software cliente de e-mail. Para compartilhamento de contatos já existe o CardDav.
- Calendário? Já temos também a opção de calendário em desktop e dispositivos móveis (e para compartilhamento já existe o CalDav).
- Compartilhamento de arquivos? FTP e Torrent, por exemplo, já existem há muito tempo para isso.
O que resta então? Joinhas e cutucadas? Eu realmente espero que a resposta não seja algo tão fútil e despropositado. São resquícios de experimentos psicológicos, conduzidos pelas plataformas de mídia social fechadas e monolíticas, os ditos jardins murados.
Porém é inegável que as plataformas de mídia social trouxeram algo de novo para a Internet. Embora joinhas e cutucadas não sejam uma resposta satisfatória para o que há de novo no Fediverso, eles podem nos ajudar a entender um conceito mais profundo, inerente às redes sociais. Tomemos os joinhas como exemplo. Eles representam uma expressão que vem de alguém. E esse alguém é uma identidade, que também publica conteúdo, que também compartilha arquivos, que troca mensagens, enfim...
Os joinhas representam uma interação de uma identidade com outra identidade, por meio de um símbolo. O mesmo vale para a cutucada, só muda o símbolo usado, e seu significado.
Em outras palavras, talvez o que haja de realmente inovador nas plataformas de mídia social, e portanto também no Fediverso, é a condensação de todas as capacidades que enumerei acima (publicação, compartilhamento de arquivos, mensagens, etc.) em uma única plataforma sob uma identidade, que pode interagir de várias formas com outras identidades.
E diferente das plataformas fechadas, o Fediverso traz como diferencial a descentralização e o controle de volta nas mãos dos usuários. Além disso, o Fediverso é muito mais amigável à privacidade e muito mais adverso à censura. Se por um lado as plataformas fechadas transformaram o debate público em um negócio, por outro o Fediverso é um espaço genuinamente público (inclusive do qual negócios legítimos e benéficos ao público geral podem se originar).
E não só isso, o Fediverso é composto por uma
miríade de aplicações diferentes, com diversos propósitos, todas se comunicando entre si. Para publicação textual (blogging), temos o Plume, por exemplo. Para publicação de vídeos, temos o PeerTube. Para áudio, temos o Funkwhale. Para microblogging, temos o Pleroma e o Mastodon. Para imagens e fotografias, temos o PixelFed. Esses são apenas alguns. Todos eles interagem entre si e assim cada um pode criar sua identidade no tipo de aplicação que julgar mais condizente com o uso que fará.
Porém as redes sociais também trouxeram efeitos muito indesejáveis para a infosfera. E agora não estou falando dos perfis falsos, dos termos de uso abusivos, das políticas de privacidade contrárias ao interesse do usuário, dos experimentos psicológicos, da censura ou da monetização de dados pessoais. Estou falando de um problema criado pelos próprios usuários: a disseminação da futilidade.
Hoje vemos um fluxo absurdo de futilidades, como memes que viralizam em um dia, e no dia seguinte já perderam seu posto para o próximo meme. Mas se pararmos para pensar bem, isso não é culpa da plataforma. Podemos lembrar que antes do advento das redes sociais, existiam as infernais correntes de e-mail, que tanta gente odiava, mas ao mesmo tempo ajudava a manter. Os meios de comunicação definem a qualidade da transmissão da informação, mas não da mensagem transmitida.
Quanto a isso pouco se pode fazer na esfera dos meios de comunicação. Dentro deles, não há cura para a estupidez humana, que Einstein sugeriu ser infinita (e quem sou eu para discordar?).