[...]Estamos vivendo o fim da supremacia masculina?Estamos no começo do fim da supremacia masculina, que poderia levar décadas, mas acho que estamos no processo. Minha neta Hannah, chamada assim por minha mãe, terá uma vida que será tão diferente da vida de sua xará, com muitas outras possibilidades, que minha mãe ficaria assombrada e a observaria com orgulho. Minhas avós não puderam votar até mais ou menos os 40 anos. Minha mãe precisou se impor para aprender a dirigir.Quando estava na universidade, cerca de 5% dos graduados das faculdades de Medicina, Direito e Negócios eram mulheres. Agora elas são cerca de 50%. Há um longo caminho pela frente, sobretudo nos níveis superiores de liderança. Mas as tendências são favoráveis em muitos países. Claro que em alguns isso é muito menos certo. No Afeganistão, provavelmente veremos o retrocesso de duas décadas de progresso para as mulheres. Mas as tendências em muitos outros lugares (Taiwan, Coreia do Sul, Europa ocidental, EUA) são positivas.A vida seria muito mais segura com esse fim da supremacia masculina?Sem dúvida, a vida será mais segura para as mulheres. Elas terão mais capacidade de fazer frente ao abuso, terão mais educação e oportunidades econômicas para proteger sua saúde e segurança, criarão coalizões entre elas que as tornarão menos vulneráveis a certos tipos de homens.Desde que saiu a versão norte-americana do meu livro, vimos o movimento #MeToo derrubar homens poderosos em muitos âmbitos da vida por assediar ou agredir as mulheres. Perguntei a muitas que conhecia se isso era uma mudança cultural real ou uma moda passageira. A maioria considera que isso marcará uma diferença no longo prazo.Vimos Andrew Cuomo, ex-governador de Nova York, tentar se esquivar da gravidade de seus maus-tratos e falta de respeito às mulheres. Ele perdeu no final, e pode apostar que a mulher que conseguiu isso não estará abusando dos homens. Além de minhas três filhas e minha neta, também tenho um filho e dois netos. Quero que eles tenham sucesso, uma boa vida. Mas acredito que o mundo será um lugar mais seguro para eles se as mulheres ganharem mais influência. Pode haver menos guerras. Isso não poderia acontecer sob uma única rainha Isabel ou Catarina. Mas, se imaginamos um mundo em que as mulheres estejam bastante representadas em altos cargos, acho que será menos provável que um choque de egos leve à violência.Qual será o papel dos homens?Parceiros. Colaboradores. Às vezes líderes, às vezes seguidores. Contribuirão com ideias e soluções que são diferentes das que as mulheres podem encontrar, não porque tenham melhores mentes, mas porque homens e mulheres, por muitas razões, pensam de forma um tanto diferente. Minha forte perspectiva evolutiva me leva a mencionar duas espécies que estão mais estreitamente relacionadas conosco: os chimpanzés e os bonobos.Se você não se sente confortável com a evolução, tome isso como uma parábola baseada na história natural. Os machos de chimpanzé são fortemente dominantes sobre as fêmeas, têm relações rápidas e superficiais e são muito violentos entre si. Os bonobos, igualmente relacionados conosco, têm coalizões femininas que praticamente controlam suas comunidades. Estas se baseiam, em parte, no sexo entre as fêmeas. As coalizões mantêm o controle sobre a conflitividade masculina.E os machos? Têm uma grande vida. Têm muito sexo lento e pausado com as fêmeas, à vezes cara a cara. Têm pouco a temer de outros machos, porque o nível de violência é muito baixo. Fazem o possível para se dar bem. Temos ambas as espécies em nós, mas durante muito tempo expressamos principalmente o lado dos chimpanzés de nossa natureza.Creio que poderíamos avançar rumo a uma bonobização da espécie humana, um mundo em que todos estariam mais seguros porque as clássicas “virtudes” masculinas do passado, baseadas em ter que enfrentar outros homens, seriam menos necessárias e teriam menos sentido. Houve um best-seller chamado Homens são de Marte, mulheres são de Vênus. Minha resposta a isso foi: “Os homens são de Marte, e as mulheres são da Terra.”As mulheres serão melhores protetoras da Terra, mas também acredito que melhores guardiãs da humanidade. Sim: sem nos deslocar ou dominar, elas podem nos ajudar a criar colaborações de homens e mulheres que inclusive poderiam, no final, proteger os homens dos piores aspectos de nós mesmos.