por Paulo Rená.
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Estudo de texto: O quê uma rede pode fazer?
by Paulo Rená on CDDMuitos respondem o quê uma rede pode fazer com diferentes exemplos da resposta padrão: ela tem o potencial de se opor a uma hierarquia, mesmo quando surgem novas soberanias em rede. Em vez disso, proponho responder a partir da análise dos princípios de organização embutidos nos protocolos de internet. Em resumo, essa análise aponta três virtudes dos sistemas que são governados por um protocolo: interoperabilidade, totalidade e operação fora das esferas do Estado e do mercado.
A robustez, a contingência, a interoperabilidade, a flexibilidade e a heterogeneidade estão entre as virtudes dos protocolos, os quais permitem aos computadores operarem entre si. O princípio da robusteza inserido no protocolo de controle de transmissão (TCP) dispõe “seja conservativo no que faz, seja liberal no que aceita de outros” promove o fortalecimento do sistema porque causa um sistema de gerenciamento distribuído que facilita as relações paritárias entre entidades autônomas. Por isso a Internet pode ser vista como o meio de comunicação de massa mais altamente organizado até hoje conhecido. Daí a sugestão de que o protocolo requeira um método de análise único.
A partir dessas assunções sobre o protocolo, os meios de comunicação apresentam três ramificações importantes para a cidadenia digital.
Primeiro, a tendência anti-hermenêutica, seguindo a teoria da informação de Claude Shannon e Warren Weaver, aponta uma indiferença ao sentido e ao conteúdo. A uma rede não é um texto a ser efetivamente lido, no sentido humano, mas sim um conjunto de dados a ser analisado sintaticamente de forma cibernética, escaneado, rearranjado, filtrado e interpolado. A interpretação é destituída pela simples soma de verificação (o que só aumenta com o que se chama de web semântica). Daí que o novo modelo de análise sugerido precisa considerar a noção de software.
Segundo, a tragédia política da interatividade, na qual as mesmas ferramentas que propiciam novas liberdades permitem novos aprisionamentos. A rede bidirecional que era tão liberadora e emancipadora para Bertold Brecht e Hans Magnus Enzensberger se tornou o próprio local central de exploração, regulação e controle. Isso porque ao invés de exceção, a interação é imposta a despeito da vontade, reforçando a indistinção entre a comunicação e o controle proposta no conceito de cibernética de Norbert Wiener. No termo de Phil Agre, os organismos são capturados de acordo com códigos e rubricas de informação e os comportamentos são ou mineirados em dados significativos ou rastreados em busca de dados ilegais.
Terceiro, a paradoxal lógica oculta do software, que privilegia a superfície ao mesmo tempo em que defende o código como essencial, ainda que escondido. No primeiro plano o software é um código fonte, comandos em linguagem de computador legíveis por humanos. Depois, os comandos são compilados e geram a aplicação, um código legível por máquina. No terceiro plano, a interface de execução oferece a quem usa a experiência normal do software. Assim, quando o código funciona, na experiência final ele é traduzido de tal forma a ocultar os planos anteriores. Há uma contraposição entre a manifestação eficiente de um programa de computador e o seu simultâneo ocultamento para quem o usa.
texto resumido:
http://www.cidadaniaeredesdigitais.com.br/_pages/artigos_04.htm