É urgente refletir sobre a prática psiquiátrica, o abuso de poder, o controle dos corpos e a ética nas ciências médicas.
Por favor, ouçam estes dois episódios da Rádio Escafandro: Parte I:
https://open.spotify.com/episode/3nNZhNMVIQWE6lqtQTxFjC?si=q2yA0vyiQ2ymxRhJKhlKuwParte II:
https://open.spotify.com/episode/3fgmf1oGqlvQytfl6WmuKs?si=j_l_aQ1IRIuMwALEGqTQNgTrata-se do relato de uma pessoa com depressão grave que foi levada a se submeter a eletrochoques, "solução" médica que lhe causou efeitos colaterais devastadores.
A saúde mental não pode mais ser uma desculpa para a normatização e abuso de corpos e mentes. Ver uma pessoa em sofrimento psíquico como um alienado é de uma violência inominável. O poder médico precisa ser regulado e pensado criticamente.
Parece que poucos são os médicos que se pensam criticamente.
Parece que a ciência é racional, mas não é responsável, porque se nega a pensar de forma crítica. Pensamento é diferente de raciocínio.Abracem e se abram para a sua capacidade de pensar! O que é relatado por Pedro pode muito bem acontecer com cada um vocês. É preciso ter consciência de que nenhuma área do saber está isenta da vontade potência que o poder (seja ele pequeno ou grande) é capaz de alimentar.
63: Não sou mais o Pedro - Capítulo 2: InternaçãoListen to this episode from Rádio Escafandro on Spotify.
Na continuação do episódio 62, contamos como, depois de ter parte da memória apagada devido a um tratamento por eletroconvulsoterapia, Pedro tentou se afastar do psiquiatra que havia indicado a prática.
A resposta, foi uma internação involuntária na ala psiquiátrica de um hospital público - o Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (HUPE/UERJ). Ali, Pedro recebeu um tratamento que lembra muito os tempos de manicômios e hospícios. E saiu do outro lado num estado mental pior do que o de quando tinha entrado.
A partir desse relato, o episódio fala sobre a reforma psiquiátrica, que desde o final da década de 1970 revolucionou a saúde mental, fechando hospícios, asilos e manicômios. Essa reforma psiquiátrica, que se desdobrou por algumas décadas, vem sofrendo fortes retrocessos nos anos recentes, em especial no governo de Jair Bolsonaro.
Episódios relacionados
62: Não sou mais o Pedro - Capítulo 1: Eletroconvulsoterapia
59: Sonhos de zolpidem
49: Conspirações psicodélicas em busca de cérebros livres
37: O sonho do Sidarta
Entrevistados do episódio
Paulo AmaranteMédico psiquiatra, doutor em Saúde Pública (Fiocruz) e Centro de Estudos e Pesquisa em Saúde Mental (Trieste/Itália). Mestre em Medicina Social (UERJ). Pesquisador Sênior do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial (LAPS/ENSP/Fiocruz). Presidente de Honra da Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME). Vice-Presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO).
Ana Paula GuljorMédica psiquiatra, mestre e doutora em Saúde Pública pela Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca da Fundação Oswaldo Cruz. Vice presidente da Associação Brasileira de Saúde Mental e Coordenadora do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Saúde Mental e Atenção Psicossocial da Fiocruz.
Ficha técnicaConcepção, produção, roteiro, apresentação, sonorização e edição: Tomás Chiaverini
Trilha sonora tema: Paulo GamaMixagem: João Victor Coura
Design das capas: Cláudia Furnari
Trilha incidental: Blue Dots
Nota de resposta do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE)
Pela análise de seu podcast, dá pra sentir claramente conteúdos extremamente coesos e com narrativas humanizadas. Mas infelizmente, em grande parte da mídia, sabemos, isso não é uma realidade. Uma sensação de incompletude ainda paira no ar, com muitos abordando o tema [saúde mental] de uma forma rasa, reducente, e muitas das vezes descontextualizada, gerando compreensão inexata e confusão social. Embora volte a ressaltar: logicamente esse não é o caso de sua rede de abordagem e reflexões através do podcast.
Mas o hospital, infelizmente, já passou por situações dessa natureza; mesmo sendo, como você mesmo ressaltou em uma das conversas que tivemos, uma instituição de excelência na disseminação do conhecimento e na atuação e cuidados, sempre de uma forma humanizada, nas questões sobre o sofrimento psíquico. Assim, se reserva de expor e levar a público casos de pacientes em discussões e/ou análises em mídias sociais. Pedimos desculpas, mas a professora Silvana, no momento, em consonância com essa diretriz da instituição, não poderá realizar a entrevista. Agradecemos a sua compreensão.